Informações
Nível de aprovação pela UnB
Submetido pela comunidade acadêmica
Nome Completo do Proponente
Marina Maria Silva Magalhães
Matrícula UnB
1009451
Unidade acadêmica da UnB
marinamsmag@gmail.com
Link Cúrriculo Lattes
Título da Proposta
Informação sobre estratégias de prevenção e combate ao COVID 19 em língua materna para o povo indígena Awa Guajá
Sumário Executivo da Proposta
Este projeto tem como objetivo contribuir para a disseminação de informações sobre prevenção e combate ao novo coronavírus – Covid-19 – entre o povo indígena Awa Guajá, em língua materna e a partir de suas concepções de mundo. A ideia é que o material ofereça subsídios inteligíveis linguística e culturalmente para orientar as ações das comunidades Awa para o enfrentamento à doença durante o período da pandemia.
Tipo da Proposta
Palavras-chave
Awa Guajá; COVID 19; informação; língua materna; contexto sociocultural.
Número de Integrantes da Equipe
4
Nome dos Integrantes da UnB
Marina Maria Silva Magalhães, Uirá Felippe Garcia, Flávia de Freitas Berto, Guilherme Ramos Cardoso
Há integrantes externos à UnB?
Sim
Nome dos integrantes externos a UnB
Uirá Felippe Garcia – antropólogo e professor da UNIFESP
Flávia de Freitas Berto – linguista e professora da SEDUC-MA
Guilherme Ramos Cardoso – antropólogo e servidor da FUNAI-MA
Possui apoio de Grupo de Pesquisa Certificado pela UnB no CNPq?
Sim
Nome/Link do Grupo de Pesquisa certificado no CNPq pela UnB
Núcleo de Tipologia Linguística (NTL)/ntl-grupo.blogspot.com
Público alvo
Doadores e Empresas | Grupos de Risco | Grupos em situação de vulnerabilidade
Análise do Contexto
A possibilidade cada vez mais real do avanço da Covid-19 em comunidades indígenas brasileiras representa um cenário de grande perigo e preocupação, cujas consequências tendem a ser devastadoras para esses coletivos. De acordo com dados do Instituto Sociambiental (2020/ https://covid19.socioambiental.org) os casos confirmados em comunidades indígenas estão na casa das centenas, e já provocaram dezenas de mortes (até maio de 2020). A tendência é que a curva de transmissão nessas comunidades se acentue nos próximos meses devido à alta transmissibilidade da doença, à vulnerabilidade epidemiológica e social, à falta de fiscalização e (em alguns casos) de protocolos para a entrada de não-indígenas nas áreas, às limitações relacionadas com a assistência médica e logística de transporte de enfermos, além do aumento das invasões.
No caso dos Awa Guajá, um povo indígena de recente contato do Maranhão, esse cenário pode ser ainda mais grave pelo fato de haver entre eles muitos idosos com diagnóstico de tuberculose e outras doenças respiratórias, além de pequenos grupos que ainda vivem isolados na floresta, sem qualquer contato oficial com o estado brasileiro.
Além disso, no contexto específico dos Awa Guajá, a necessidade de quarentenas para pessoas em trânsito provocou a diminuição do fluxo de comunicação entre os indígenas e os não-indígenas, devido à suspensão temporária de visitas de agentes dos diversos órgãos e organizações que desenvolvem atividades nas aldeias, tal como foi estabelecido no Plano de Contingência elaborado pela Frente de Proteção Etnoambiental Awá Guaja. Este novo cenário, contudo, provocou uma sensível diminuição no fluxo das informações que chegam às aldeias, afetando ainda mais as chances de os Awa Guajá receberem de forma adequada as informações muitas vezes difusas sobre prevenção e combate ao novo coronavírus.
Soma-se a isso o fato de que as campanhas e materiais informativos distribuídos aos profissionais de saúde e mesmo para os indígenas frequentemente ignoram a concepção de saúde dos Awa, e raramente os protocolos de atendimento e tratamento são adequados ao seu modo de vida, sendo a interlocução com os servidores da saúde que permanecem na área indígena usualmente realizada a partir de um modelo em que estes se colocam como detentores do conhecimento.
Compreendendo que a questão é multifacetada e deve ser abordada de forma interdisciplinar, a equipe é composta por especialistas nas áreas de linguística e antropologia com longa experiência de pesquisa entre os Awa Guajá e parceria profissional entre si. Assim, diante desse contexto e cientes das dificuldades supracitadas, justifica-se o esforço colaborativo entre os membros da equipe para contribuir com a discussão qualificada e a disseminação de informações sobre prevenção e combate ao novo coronavírus, na própria língua falada por esse povo, a partir de sua concepção de mundo e também a partir das demandas por eles apresentadas, no sentido de torná-los menos vulneráveis.
Além disso, em face da atuação insuficiente pelos órgãos públicos de fiscalização ambiental para proteção da floresta e de suas populações, há a necessidade de incluir na discussão instruções sobre medidas de controle para contenção de agentes infratores ambientais (madeireiros, caçadores, coletores), vetores potenciais de disseminação da COVID-19 e de crescimento da degradação ao meio ambiente. Abordar essa questão é também fundamental para esse povo essencialmente caçador e coletor, principalmente neste momento em que têm adotado o refúgio na floresta como estratégia de proteção.
No que se refere à Fundamentação Teórica, entende-se atualmente proteção social como a busca de garantias de seguridade e políticas sociais (cf. Pereira, 2006) para lidar com choques idiossincráticos. Ter sistemas de proteção social passíveis de adaptação e aprofundamento para acomodar maiores necessidades é fundamental para uma resposta eficaz a choques (Ferreira et al., 1999; Wiggins e Keats, 2013). Estudos de casos em contextos humanitários específicos oferecem abordagens e tipologias para a adaptação de sistemas de proteção social, de modo a torná-los responsivos a choques (Oxford Policy Management, 2015; Barca e O'Brien, 2018), como a crise atual que vivenciamos. A constituição de uma rede de apoios emergencial especializada e que possa entrar em contato com outros segmentos estratégicos é entendida aqui como parte deste sistema de proteção. No caso dos grupos indígenas, faz-se imprescindível que a adaptação dos sistemas considere o contexto de bilinguismo e biculturalismo a que eles estão submetidos, bem como aspectos educacionais e socioeconômicos envolvidos.
No que diz respeito aos objetivos e metas do projeto, estes são:
· Construir mecanismo de interlocução especializada e qualificada para discutir informações sobre prevenção e combate à COVID 19 entre os Awa Guajá.
· Elaborar método de comunicação eficiente na língua materna e considerando questões logísticas, tecnológicas e socioculturais.
· Desenvolver produtos (cartilhas e áudios instrucionais) destinados a garantir a acessibilidade à informação que circula e a formar o público-alvo em relação aos aspectos considerados relevantes para o controle da pandemia, para o conhecimento dos sistemas de proteção social.
· Constituir rede de apoio emergencial específica para esse grupo.
· Apresentar os resultados da pesquisa para as instituições a que pertencem os integrantes do projeto sob a forma de relatório de pesquisa e apresentações cujos resultados possam ser replicados em outros contextos semelhantes.
No que concerne a metodologia, o projeto se embasa numa metodologia qualitativa, com as seguintes etapas: 1) Interlocução via Whatsapp com agentes de saúde indígenas ou lideranças e estabelecimento de diálogo especializado a partir de sua concepção de mundo e da noção de saúde a ele associada, para discutir as medidas de proteção. 2) Elaboração e gravação de frases curtas e elucidativas sobre o tema na língua Guajá. 3) Elaboração de material escrito e em áudio, como informes e podcasts. 4) Disseminação do material editado em listas de transmissão. 5) Elaboração de relatório final. 6) Apresentação dos resultados da pesquisa às Instituições a que pertencemos.
Área de relação do projeto
Apoio social | Assistência especializada | Comunicação de risco e mobilização social | Preparação para emergência | Segurança Sanitaria dos alimentos
Breve Fundamentação Teórica
Constituição de sistemas de proteção social, de modo a torná-los responsivos a choques (Oxford Policy Management, 2015; Barca e O'Brien, 2018).
Objetivos e Metas
Constituir rede de apoio específica e laborar método de comunicação eficiente na língua Guajá, considerando questões tecnológicas e socioculturais.
Metodologia
Qualitativa, com etapas que envolvem interlocução, elaboração e disseminação de material informativo
Resultados Esperados
Com esse trabalho esperamos construir uma rede de apoio que deve permanecer durante toda a pandemia, enquanto os Awa Guajá precisarem de informações a serem melhor esclarecidas e apresentarem demandas.
Para isso, esperamos desenvolver os seguintes produtos (tecnologias sociais), que contemplam as especificidades linguísticas, culturais, educacionais e socioeconômicas do público-alvo do projeto:
· discussão de temas relacionados à pandemia online;
· cartilhas e áudios informativos em formato leve que facilite a dispersão via celular;
· rede de apoio específica e qualificada;
· metodologia de adaptação dos sistemas de proteção social que os torne responsivo a choques da natureza do Covid-19.
Esperamos que essa proposta de disseminação de informações, neste formato, alcance mais pessoas em todas as comunidades Awa Guajá – uma vez que é difundida em língua materna e após amplo esclarecimento do tema selecionado – e promova esclarecimentos sobre a doença e uma discussão profícua entre os Awá Guajá acerca de como lidar com esse momento que exige uma nova relação com a sociedade envolvente. Vale ressaltar que o formato de dispersão da informação via arquivo de aúdio é muito mais eficaz neste contexto do que a produção de materiais escritos, como cartilhas e cartazes, já que os Awa Guajá, como povo indígena, têm tradição de transmissão de conhecimento essencialmente oral e, mesmo que alguns deles sejam alfabetizados em língua materna, o alcance da informação oral é infinitamente maior, principalmente no atual contexto em que muitos fazem uso do celular e do Whatsapp.
Área de Conhecimento
Subárea de Conhecimento
O projeto demanda algum laboratório da UnB? Se sim, qual?
Não
Há previsão de Orçamento proveniente na unidade acadêmica?
não
Cronograma da Execução
Mapeamento de informações essenciais e medidas de proteção social em resposta à crise de COVID-19 e constituição de redes de apoio emergenciais – maio de 2020
Desenvolvimento de proposta de metodologia de adaptação do sistema de proteção social para esse público – maio e junho de 2020
Interlocução com agentes de saúde e lideranças Awa Guajá, elaboração e dispersão de material informativo – maio a setembro de 2020
Elaboração de relatório final – outubro e novembro de 2020
Apresentação dos resultados às Instituições às quais pertencem os membros da Equipe (UnB, UNIFESP, SEDUC/MA, FUNAI) – dezembro de 2020
Tempo total de execução previsto
8 meses (podendo ser estendido, caso necessário)
Orçamento
Não há previsão de gastos.