Informações
Nível de aprovação pela UnB
Aprovado pela UnB
Nome Completo do Proponente
Ronaldo Pilati Rodrigues
Matrícula UnB
1017209
Unidade acadêmica da UnB
rpilati@unb.br
Link Cúrriculo Lattes
Título da Proposta
A pandemia da desinformação: aspectos sociais e cognitivos da crença em informações falsas sobre Covid-19
Sumário Executivo da Proposta
A pandemia de COVID-19 veio acompanhada por uma “infodemia”, a superabundância de informação que dificulta a identificação de dados confiáveis. No Brasil, ferramentas de comunicação instantânea, como o Whatsapp, permitem a propagação de informações falsas em proporções sem precedentes. A divulgação de falsas curas, receitas milagrosas e teorias da conspiração tem importante custo para a saúde pública e para o funcionamento da sociedade brasileira. Pesquisas recentes relacionam a crença em informações falsas à menor tendência ao pensamento analítico, podendo haver, no entanto, influência de aspectos identitários e sociais. O presente estudo propõe analisar tal questão de maneira experimental, tomando como foco a propagação de informações falsas relacionadas à pandemia por Whatsapp.
Tipo da Proposta
Palavras-chave
Desinformação, COVID-19, Whatsapp, Pensamento Analítico, Identidade
Número de Integrantes da Equipe
6
Nome dos Integrantes da UnB
Ronaldo Pilati, Andressa Alves Bonafé Pontes, Luísa Schimidt, Mariana Travain, Cleno Couto, Sergio Nascimento
Há integrantes externos à UnB?
Não
Possui apoio de Grupo de Pesquisa Certificado pela UnB no CNPq?
Sim
Nome/Link do Grupo de Pesquisa certificado no CNPq pela UnB
Grupo de Estudos em Psicologia Social (GEPS), Laboratório de Psicologia Social (LAPSOCIAL), Instituto de Psicologia (Link: http://www.psto.com.br/laboratorios-e-nucleos/)
Público alvo
Casos Confirmados | Grupos de Risco | Hospitalar | População em Geral | Profissionais da Saúde | Voluntários
Análise do Contexto
Em relatório divulgado no início de fevereiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde destacou que “a eclosão do Covid-19 e as reações geradas têm sido acompanhadas de uma massiva “infodemia” - uma superabundância de informação, algumas precisas e outras não - que torna difícil para as pessoas encontrarem fontes e orientações confiáveis quando precisam”. No Brasil, informações falsas são compartilhadas à exaustão em grupos de Whatsapp, que, por serem criptografados, passam imunes aos mecanismos de verificação de veracidade existentes em outras plataformas, como o Facebook. Exemplos incluem curas milagrosas, recomendações infundadas e teorias da conspiração relacionadas à origem do vírus. Para além de causar pânico e reforçar vieses, a desinformação pode ter sérias consequências para a saúde pública, como o envenenamento por metanol e a falta de hidroxicloroquina em farmácias. Em um contexto no qual informação pode salvar vidas, o estudo dos mecanismos cognitivos e sociais da crença em inverdades é urgente. Tal estudo é condição incontornável para o desenvolvimento de políticas eficazes não apenas para o combate à desinformação mas para superação da pandemia em curso.
Referência:
World Health Organization (2020). Novel Coronavirus - Situational Report 13. Disponível em https://www.who.int/timorleste/emergencies/novel-coronavirus-2019/novel-coronavirus-(2019-ncov)-situation-reports
Breve Fundamentação Teórica
O presente trabalho se coloca na intersecção entre a Psicologia Cognitiva e Social. Por um lado, embasa-se na teoria do processamento duplo para questionar o papel do pensamento analítico na capacidade de detecção de inverdades, utilizando, para isso, o conceito de Sistema 1 e 2 (Stanovich & West, 2000). Por outro lado, interessa-se pelo efeito da identidade de grupo dos participantes, a qual é, por natureza, socialmente construída. Proponentes da abordagem do raciocínio motivado sublinham que indivíduos têm maior tendência a aceitar informações alinhadas com suas identidades sociais e a rejeitar dados que as colocam em cheque (Kahn, 2017; Van Bavel e Pereira, 2018). Contrariamente, defensores da teoria do raciocínio clássico afirmam que o engajamento do Sistema 2 propicia o julgamento acurado sobre a veracidade de novas informações (Bago, Rand & Pennycook, 2019). O presente estudo visa a contribuir a este debate e explorar sua aplicação ao contexto brasileiro.
Referências:
Bago, B., Rand, D. G., & Pennycook, G. (2019). Fake news, fast and slow: Deliberation reduces belief in false (but not true) news headlines. Publicação online adiantada. https://doi.org/10.31234/osf.io/29b4j
Kahan, D. M. (2017). Misconceptions, Misinformation, and the Logic of Identity-Protective Cognition. SSRN Electronic Journal. https://doi.org/10.2139/ssrn.2973067
Stanovich, K. E., & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: Implications for the rationality debate. Behavioral and Brain Sciences, 23(5), 645–665. https://doi.org/10.1017/S0140525X00003435
Van Bavel, J. J., & Pereira, A. (2018). The Partisan Brain: An Identity-Based Model of Political Belief. Trends in Cognitive Sciences. Volume 22, Issue 3 (213-224) https://doi.org/10.1016/j.tics.2018.01.004
Objetivos e Metas
Pretende-se elucidar os processos cognitivos e sociais subjacentes à crença em informações falsas relacionadas à pandemia de Covid-19. Para isso, buscar-se-á determinar a relação entre a propensão ao pensamento analítico e a habilidade de identificar informações falsas. Similarmente, avaliar-se-á o papel da identidade de grupo na propagação de desinformação.
Metodologia
Propõe-se a realização de estudo experimental na forma de questionário virtual. Buscar-se-á obter amostra representativa nacional por meio de anúncios em redes sociais. Será administrado o Teste de Reflexão Cognitiva (TRC) bem como questões relacionadas à identidade social e ideológica do participante. Será realizada tarefa de identificação de informações falsas previamente coletadas, as quais serão apresentadas na forma de mensagens de Whatsapp. Será manipulada a fonte da informação, a saber, o nome do grupo de Whatsapp. Para controlar o efeito de exposição prévia, participantes responderão se já haviam tido contato com a informação apresentada.
Resultados Esperados
Do ponto de vista teórico e metodológico, o presente estudo contribuirá para o debate sobre a pertinência do modelo de processamento duplo na interpretação do fenômeno das informações falsas. Permitirá, ademais, esclarecer a natureza dos resultados obtidos em testes como TRC e similares. Contribuirá ainda para a avaliação do poder explicativo das hipóteses de raciocínio motivado versus clássico. Nesse sentido, possíveis achados incluem, por exemplo, a correlação inversa entre a propensão ao raciocínio analítico relacionada e a susceptibilidade a informações falsas. Similarmente, espera-se verificar correlação positiva entre a intensidade da identidade de grupo e a crença em informações que se alinhem com o posicionamento de membros do mesmo grupo, sejam elas falsas ou verdadeiras.
Dado o caráter experimental da pesquisa, espera-se que os achados contribuam para uma visão mais clara de mecanismos que ajudam a explicar a propagação da desinformação. Tal contribuição é de especial relevância no contexto brasileiro, onde pesquisas empíricas sobre o tema ainda são escassas.
Tendo em vista a disseminação de informações falsas sobre a pandemia de Covid-19 e os potenciais efeitos nefastos desse fenômeno, acredita-se que a presente pesquisa terá importantes implicações aplicadas. Uma melhor compreensão dos aspectos cognitivos e sociais da propagação da desinformação é fundamental ao desenvolvimento de políticas mais eficazes na luta contra o vírus. O caráter global dos sistemas de comunicação atuais, e das redes sociais em especial, traz à tona o debate sobre a adequação de tais políticas a diferentes contextos culturais e tecnológicos. Espera-se que os resultados do presente estudo enriqueçam essa discussão.
Área de Conhecimento
Subárea de Conhecimento
Há previsão de Orçamento proveniente na unidade acadêmica?
Não
Cronograma da Execução
Criação do questionário e tarefa experimental: Até 15 de abril de 2020
Recrutamento de participantes e realização do estudo: Até 15 de maio de 2020
Análise dos resultados: Até 31 de maio de 2020
Elaboração de artigo para publicação: Até 30 de junho de 2020
Tempo total de execução previsto
3